Ler direito ou pegar no trampo
História
de leitura. Eu detesto ler. Lá em casa a gente tinha que obrigação
de ler qualquer coisa. Meu pai, que estudou pouco, queria que os filhos lessem
direito – como ele vivia falando. Lê direito! Nunca entendi o que queria dizer,
odiava aquelas horas de obrigação e chatice.
Meus
irmãos acabaram gostando desse troço, mas eu num tem jeito. Ficava arrepiado
quando as professoras me achavam na sala e logo diziam: “Agora é a vez de Alex
ler.” Se eu pudesse, levantava da cadeira e ia embora. Quanto mais eu fingia
que tinha dificuldade na leitura, as professoras me faziam voltar na leitura e
repetir. Deus do Céu, que vontade de morrer!!! Por que todo professor cisma que
o aluno tem que ler? Por que não chamam só as crianças que gostam de ler?
Parece que elas adivinham e só chamam as crianças que não querem ou não sabem
ler direito.
Eu
só li quando era obrigado lá em casa ou na escola. Eu acho esse negócio de ler
“um porre”. Eu não entendo porque tem gente que gosta de ler. Tenho um colega
que lê só livro grande. Eu já disse para ele parar com aquilo, que não dá
sangue pra ninguém. Tem é que pegar no trampo.
Alex
Monteiro de Lima, 25 anos, vigia noturno - Texto de Terezinha Cypriano- Histórias que ouvi, set 2012.
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Leitura! Tô fora!!!
Já li alguns livros, não muitos.
Todos porque as professoras de Português pediam para fazer um trabalho
qualquer. Eu lia, era pra nota, tinha que ler. As professoras sempre elogiaram
o jeito que eu lia. Elas diziam que eu lia direitinho. Sempre ouvia elas
dizerem: ”Viu, ler é isso aí que Tânia fez. Lê direitinho, faz as paradas dos
pontos certinhos.” Acho que ler é fácil. Não tive problema na época em que
estava aprendendo a ler. Também minha mãe me ajudava, fazendo as tarefas
comigo. Quando ela não podia me acompanhar nas tarefas, ela chegava e
perguntava tudo: o que eu tinha feito, pedia pra eu recontar a história que
tinha lido, revisava toda a tarefa e se encontrasse alguma coisa errada, tinha
que refazer. Acho que isso tudo facilitou minha passagem pela escola.
Mas
toda essa facilidade que eu tive com leitura não me deixou apaixonada por
livros, muito menos ler. Não sei dizer o porquê. Só sei que não faço a menos
questão de ler e muito menos fico procurando livros por aí. Quanto tenho que
fazer algum curso e aparece apostila, papelzinho, sei lá mais o que, fico
irritada, com vontade de ficar sentada no fundo da sala só ouvindo. Eu aprendo
melhor ouvindo do que ficar lendo, lendo, lendo. Demora muito ler. Coisa
chatinha. Sei que você é professora de Português. Mas... Fala sério!! Tô fora!
Tânia
Mara Alves, 27 anos- Texto de Terezinha Cypriano, Histórias que ouvi - set 2012.