Todas às tardes, o ritual inicia: roupa limpa, cheirando amaciante,
cabelo lavado e bem penteado, vai a menina levando seu banquinho para o portão.
É, antigamente todas as garotas sentavam-se nos fins das tardes em frente ao
portão de suas casas e faziam confidências
às amigas, ficando assim, unidas
em seus desejos secretos.
Teresa não era diferente. Tinha
um amor: o menino da Rua Júlio César. Moreno, esguio, cabelo negros como a
graúna. Nunca se aproximou dele. Nunca trocou uma palavra. Talvez ele nunca
tivesse desviado seu olhar para ela, mas o amava assim mesmo. Nem mesmo sabia o
nome de seu amor. Uma coisa Teresa e as amigas tinham certeza, ela estava
apaixonada. Era o garoto mais bonito do bairro, isso era!!
Por meses inteiros, o ritual se repetiu. As expectativas da menina
apaixonada não se concretizavam. O garoto mais bonito do bairro um dia surgiu
na esquina com uma garota que nem era tão bonita. Tinham as mãos unidas e um
sorriso nos lábios. Teresa olhou, esperou o casal passar... Seus olhos não
acreditavam. Marejou. As amigas ficaram esperando uma reação... A garota
apaixonada levantou-se, pegou seu banquinho, caminhou alguns metros em
silêncio, virou-se e disse com voz
engasgada: “Ele nem é tão bonito assim!” E entrou.