quarta-feira, 10 de outubro de 2012

AMOR DE MENINA


 

 

 
       Todas às tardes, o ritual inicia: roupa limpa, cheirando amaciante, cabelo lavado e bem penteado, vai a menina levando seu banquinho para o portão. É, antigamente todas as garotas sentavam-se nos fins das tardes em frente ao portão de suas casas e faziam confidências   às  amigas, ficando assim, unidas em seus desejos secretos.

 

       Teresa  não era diferente. Tinha um amor: o menino da Rua Júlio César. Moreno, esguio, cabelo negros como a graúna. Nunca se aproximou dele. Nunca trocou uma palavra. Talvez ele nunca tivesse desviado seu olhar para ela, mas o amava assim mesmo. Nem mesmo sabia o nome de seu amor. Uma coisa Teresa e as amigas tinham certeza, ela estava apaixonada. Era o garoto mais bonito do bairro, isso era!!

 
               Numa tarde, a paixão surge na esquina. A menina agita-se, sente-se nervosa, sente-se feliz, levanta-se,      corre,    entra em casa. Corre para seu quarto, as janelas voltadas para rua e lá, coloca a mesma música de sempre, “My Love”, no máximo.  Ele iria ouvir e, quem sabe, descobrir que ali, naquela casa, havia uma garota apaixonada. O garoto da rua vizinha um dia ia amolecer e cair em seus braços. Era tudo que  Teresa esperava acontecer.

 

        Por meses inteiros, o ritual se repetiu. As expectativas da menina apaixonada não se concretizavam. O garoto mais bonito do bairro um dia surgiu na esquina com uma garota que nem era tão bonita. Tinham as mãos unidas e um sorriso nos lábios. Teresa olhou, esperou o casal passar... Seus olhos não acreditavam. Marejou. As amigas ficaram esperando uma reação... A garota apaixonada levantou-se, pegou seu banquinho, caminhou alguns metros em silêncio, virou-se e disse com voz  engasgada: “Ele  nem  é tão bonito assim!” E entrou.

                                                                   Cypriano, Terezinha Fernandes - 2009 Contando a gente não esquece.