quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Gramática, no banco dos réus!!!!!



Quero registrar um encontro que valeu por si só. Tínhamos a tarefa de nos dividirmos em dois grupos a fim de se fazer a defesa e a acusação da ré em questão: A Gramática... A mim e a Ivone nos coube a acusação!!!

Acusamos a Gramática de :
  • não garantir bons escritores;

  • impor aos brasileiros uma correção europeia;

  • levar uma nação inteira pensar que não sabe a própria língua;

  • de nos fazer acreditar que ser bom em Gramática é memorizar regras e exceções;

  • desprestigiar os variados falares de um país multirracial;

  • reforçar a crença de uma nação subdesenvolvida.


Enquanto isso... a defesa se esmerava para defender a ré! Mas, após o confronto das partes, vimos como é difícil defendê-la pura e simplesmente.

Aproveito para ilustrar com belos depoimentos de grandes escritores nacionais.

"Um escritor que passasse a respeitar a intimidade gramatical das suas palavras seria tão ineficiente quanto um gigolô que se apaixonasse pelo seu plantel. Acabaria tratando-as com a deferência de um namorado ou com a tediosa formalidade de um marido. A palavra seria sua patroa! Com que cuidados, com que temores e obséquios ele consentiria em sair com elas em público, alvo da impiedosa atenção de lexicógrafos, etimologistas e colegas. Acabaria impotente, incapaz de uma conjunção. A Gramática precisa apanhar todos os dias para saber quem é que manda." (O Gigolô das palavras).Luis Fernando Verissimo www.releituras.com/ifverissimo_bio.asp

Dinah Callou cita João Ubaldo Ribeiro que assim fala sobre a gramática:
"A gramática é a mais perfeita das loucuras, sempre inacabada e perplexa, vítima eterna de si mesma e tendo de estar formulada antes de poder ser formulada – especialmente se se acredita que no princípio era o Verbo. Estou, como já contei, estudando gramática e fico pasmo com os milagres de raciocínio empregados para enquadrar em linguagem “objetiva” os fatos da língua. Alguns convencem, outros não. Estes podem constituir esforços meritórios, mas se trata de explicações que a gente sente serem meras aproximações de algo no fundo inexprimível, irrotulável, inclassificável, impossível de compreender integralmente. Mas vou estudando, sou ignorante, há que aprender. Meu consolo é que muitas coisas que me afligem devem afligir vocês também. Ou pelo menos coisas parecidas (p.15). Este trecho, “desabafo?”, me faz lembrar de tantos outros textos que expressam a relação dos escritores com a gramática, como, Gigolô das palavras, de Luis Fernando Veríssimo; Nascer no Cairo, ser fêmea do cupim, de Rubem Braga; De Mel a pior, de Fernando Sabino; Colocador de pronomes, de Monteiro Lobato, além do ótimo Emília no país da Gramática, também de Monteiro Lobato, no qual, sem querer, se faz uma visita ao país da Lingüística devido à compreensão avançada do autor quanto aos fatos lingüísticos e a sua sujeição à mudança lingüística.


Callou cita ainda Celso Cunha, gramático respeitadíssimo, que afirmou “O que está a matar o estudo do idioma em nossas escolas é que todo o ensino se faz na base do certo e do errado, do que é o do que não é vernáculo [...]. Evitem-se os erros, os erros verdadeiros. Mas para isso só há um remédio já preconizado por Jerpersen: “Nada de listas e de regras, repita-se o bom muitas e muitas vezes. (p.14). Este trecho me recorda Machado de Assis, sobre o qual se conta ter ficado espantado com a gramática de seu sobrinho. Como Machado pôde ser alçado ao posto de maior escritor do Brasil sem ter o conhecimento de gramática? É neste exato momento que entra a questão da exposição aos bons modelos, Machado era leitor, leitor voraz. E por meio da exposição aos bons modelos é possível depreender as formas valorizadas na língua sem que necessariamente se saiba nomenclatura gramatical". / www.espacoacademico.com.br/079/79res_guimaraes.htm

Manuel Bandeira
Pronominais
Dê-me um cigarro

Diz a gramática

Do professor e do aluno

E do mulato sabido

Mas o bom negro e o bom branco

Da Nação Brasileira

Dizem todos os dias

Deixa disso camarada

Me dá um cigarro

Fragmentos do livro de poesias Pau-Brasil, de Oswald de Andrade

Erro de português
Quando o português chegou

Debaixo duma bruta chuva

Vestiu o índio

Que pena!

Fosse uma manhã de sol

O índio tinha despido o português.

Fragmentos do livro de poesias Pau-Brasil, de Oswald de Andrade

Este sim foi o único e verdadeiro ERRO DE PORTUGUÊS