Estava para receber um casal amigo. Muito apreensiva, deixei transparecer. Claudenora, minha secretária do lar, detectou, com sua anteninha da fidelidade, meu nervosismo. “Mas o que a senhora, Patroa, tá nessa aflição? Deixa tudo comigo que eu resorvo.” E resolvia mesmo. Do jeito dela, mas resolvia...
Naquele dia, além de receber o casal
amigo, me surpreendi com a chegada inesperada de meus dois filhos. Havia
pensado numa macarronada, mas meus filhotes detestavam. Tinha que providenciar
outra opção. Foi aí que, inocentemente, solicitei ajuda de Claudeonora: “Clode”
- é assim que a chamo - faz uma medida de arroz para Marcel e Julinho. Ela
prontamente foi cumprir a minha ordem. Voltou alguns minutos, assim que me
ouviu chamá-la.
_Claude, meus filhos ligaram e vão se atrasar. Deixe para
fazer o arroz mais tarde..
_Ih, senhora! Agora já coloquei no fogo. Se apagar vai virar
cola de “arrozi”...
_Não tem problema. Assim que ficar
pronto, pegue algumas folhas de jornal e
embrulhe o arroz nele. Vai conservar quentinho até a chegada dos meninos.
_Eh, a senhora, diz né! Então, tá! No jorná, né?! Eu heim!
Antes eu tivesse desconfiado da reação dela. Deveria ter
perguntado qualquer coisa para saber o que ela entendeu. Por que não fiz isso?
Mas eu estava tão envolvida com os meus
convidados que não dei a menor importância à reação dela.
Na hora do almoço, tudo corria bem
demais, quando surge pela porta adentro, nada mais nada menos, que meus pimpolhos desculpando-se pelo atraso.
_Claudeonora, por favor, traga o arroz para os meninos, –
solicitei – eles chegaram!
Foi neste momento que se comprovou a
fidelidade canina da minha secretária do
lar: Claudenora, apressadinha, entra pela sala e dirige-se à mesa com um
embrulhinho de jornal. Claudenora escolhe o melhor lugar para colocar aquele,
aquela, sei lá... o mais próximo dos meninos e abre... Meeeeuuu Deeeus!!
Claudenora embrulhou o arroz direto no jornal. Quase caí para trás de vergonha.
_Claudenora, o que é isso, criatura?
_Ué, a senhora é que disse pra
“embrulhá o arrozi dus mininus no jorná pra mode ficá quentim”.
Terezinha
Cypriano Fernandes
In,
Histórias que ouvi. set/2011