sábado, 14 de julho de 2012

EMBRULHADINHO DE ARROZ


 
Estava para receber um casal amigo. Muito apreensiva, deixei transparecer.  Claudenora, minha secretária do lar, detectou, com sua anteninha da fidelidade, meu nervosismo. “Mas o que a senhora, Patroa, tá nessa aflição? Deixa tudo comigo que eu resorvo.” E resolvia mesmo. Do jeito dela, mas resolvia...
Naquele dia, além de receber o casal amigo, me surpreendi com a chegada inesperada de meus dois filhos. Havia pensado numa macarronada, mas meus filhotes detestavam. Tinha que providenciar outra opção. Foi aí que, inocentemente, solicitei ajuda de Claudeonora: “Clode” - é assim que a chamo - faz uma medida de arroz para Marcel e Julinho. Ela prontamente foi cumprir a minha ordem. Voltou alguns minutos, assim que me ouviu chamá-la.
_Claude, meus filhos ligaram e vão se atrasar. Deixe para fazer o arroz mais tarde..
_Ih, senhora! Agora já coloquei no fogo. Se apagar vai virar cola de “arrozi”...
_Não tem problema. Assim que ficar pronto, pegue  algumas folhas de jornal e embrulhe o arroz nele. Vai conservar quentinho até a chegada dos meninos.
_Eh, a senhora, diz né! Então, tá! No jorná, né?! Eu heim!
Antes eu tivesse desconfiado da reação dela. Deveria ter perguntado qualquer coisa para saber o que ela entendeu. Por que não fiz isso?
Mas eu estava tão envolvida com os meus convidados que não dei a menor importância à reação dela.
Na hora do almoço, tudo corria bem demais, quando surge pela porta adentro, nada mais nada menos, que  meus pimpolhos desculpando-se pelo atraso.
_Claudeonora, por favor, traga o arroz para os meninos, – solicitei – eles chegaram!
Foi neste momento que se comprovou a fidelidade canina da minha secretária  do lar: Claudenora, apressadinha, entra pela sala e dirige-se à mesa com um embrulhinho de jornal. Claudenora escolhe o melhor lugar para colocar aquele, aquela, sei lá... o mais próximo dos meninos e abre... Meeeeuuu Deeeus!! Claudenora embrulhou o arroz direto no jornal. Quase caí para trás de vergonha.
_Claudenora, o que é isso, criatura?
_Ué, a senhora é que disse pra “embrulhá o arrozi dus mininus no jorná pra mode ficá quentim”.
                                        Terezinha Cypriano Fernandes
                                       In, Histórias que ouvi. set/2011

Por que o jovem não deve ler



Ulisses Tavares
[...]pensei em escrever sobre a importância da leitura. Algo leve, mas suficiente para despertar em meia dúzia de jovens o gosto pela leitura. (De quê? De tudo! De jornais a livros de filosofia; de bulas de remédio a conselhos religiosos; de revistas a tratados de física quântica; de autores clássicos a paulos coelhos.)
Daí aconteceram duas  coisas que me fizeram mudar de rumo e de idéia.
Primeiro eu li que fizeram, alguns meses atrás, um teste de leitura com estudantes do ensino fundamental de vários países. Era para avaliar se eles entendiam de verdade o que estavam lendo. Adivinhem quem tirou o último lugar, atrás até mesmo de paisinhos miseráveis e perdidos no mapa-múndi? Acertou bródi: o Brasil!
[...]Ler sem raciocinar é como preencher um cheque sem saber quanto se tem no banco.
[...] logo depois, li em pesquisa recentemente nos que para 56% dos brasileiros entre 18 e 25 anos comprar mais significa mais felicidade, pouco se importando com problemas ambientais e sociais do consumo desenfreado. Ou seja, o jovem brasileirinho gosta de comprar muitas latinhas de cerveja, toma todas e joga todas nas ruas ou nas estradas, sem remorso. Irado,aí!
Viram como ler atrapalha? O jovem é mesmo muito esperto!
A gente fica sabendo de fatos que se não soubesse teria mais tempo para curtir o próprio umbigo numa boa, sem ficar indignado e preocupado com a situação atual de boa parte de nossa juventude.

 E também faz o tico e o teco (nossos dois neurônios  que ainda funcionam no cérebro,...)  malhar e suar, em vez de ficarmos admirando o crescimento do bumbum e do muque no espelho das academias de musculação.
[...] como professor e escritor, nunca mais vou recomendar a ninguém que leia mais, que abra livros para abrir a cabeça. Não! Trocar a alienação pela leitura?
Eu reconheço: a maioria está certa em não ler.
E tem, no mínimo, cinco razões poderosas para não ler: se ler, vai querer participar como cidadão do destino do país. Não vale a pena o esforço!
Se ler, vai saber que estão mentindo e matando um monte de jovens todos os dias em todos os lugares do Brasil  impunemente (graças a Deus ele não sabe disso, pois não lê) e não percebem a tremenda cilada que é acreditar que bacana é mentir e matar.
Se ler, vai acordar um dia  e se perguntar que diabo anda acontecendo neste país, onde só ladrões, corruptos, prostitutas e ignorantes aparecem na mídia.
Se ler, vai ficar mais humano e, horror dos horrores, é até capaz de sentir vontade de participar de trabalho comunitário, voluntário e parar de ser egoísta.
Se ler, vai começar a comparar opiniões, começar a pensar e descobrir que sua vida  anda meio torta, meio gado feliz.
Realmente a leitura não tem utilidade para nada! O jovem tem razão,bródi! O hábito de leitura vai fazer muita diferença na vidinha dele. É melhor ficar sem saber nada mesmo...

sexta-feira, 13 de julho de 2012

BEM-VINDO, QUERIDO RECESSO!!


como perceber se estamos estressados, estafados, ou, até mesmo o velho e bom, "cansados"! É, hoje em dia, tudo vira estresse. Mas o que me aconteceu foi desligamento da realidade! Permitam-me usar uma expressão que acabei de criar para o que se passou comigo há pouco.

Depois de caminhar, voltei para casa no intuito de dar um jeitinho em minha casa e sair. É, sair! Estava iniciando minhas tão esperadas "férias" de meio de ano. Quarta -feira, meio-dia,  fechamento das minhas  aulas da semana. E nesta última, em especial, estava dentro da semana  do recesso. Como sempre, mais do que na hora, porque já estou no ponto de "subir no morro" e gritar.

Aprontei-me com todo esmero para ir ao supermercado. Escolhi os acessórios que comporiam meu visual do jeitinho que gosto. Como estava frio, calcei meias três quartos finas e,  com cuidado, minhas sandálias. Passei batom. Passei o rímel. Comprei um, todo mundo usa, porque eu o dispensaria?

Fui ao mercado da praça, o mais próximo de minha casa, mas não encontrei o que desejava. Então, parti para o supermercado mais distante, porque lá eu tinha certeza de que encontraria o que procurava. Andei por todo os espaços do estabelecimento. Comprei. Tomei cafezinho. Cumprimentei conhecidos. E reparei uma ex-aluna olhando para os meus pés. Não dei importância, pois conclui que ela estivesse estranhando meias finas com sandálias. Pensei: "Uso meias com sandálias, sim minha querida! E daí?"

Fui. Voltei. E dei de novo com aquela garota olhando para os meus pés. Que insistência,heim? Mas tudo bem! Não vou ficar encucada. Hoje é meu primeiro dia de férias e não vou, não quero e não posso me estressar!

Saí do estabelecimento, encontrei um amigo e fomos conversando até o meio do caminho. Continuei  de volta à minha casa, sem me lembrar do que tinha se passado no supermarcado. Deixei as compras sobre a pia e dirigi-me ao quarto para trocar os calçados que já estavam me matando. Abaixei-me... E não acreditei no que estava vendo... Foi quando entendi os olhares insistentes de minha ex-aluna: no meu pé direito estava uma sandália de tiras douradas e bege, enquanto no pé esquerdo, uma sandália com uma única tira larga com um detalhe circular prateado.

HAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHA
Que bom que o recesso chegou!!! Seja bem-vindo , meu queridííssiimmoo, Recesso!!!




Registrando a prática